Bom dia, boa tarde, boa noite, por enquanto.
Quarta-feira chegou e junto com ela um novo texto, com um dos temas mais recorrentes, e talvez buscados, até mesmo pelos corações de pedra.
Peço licença mais uma vez para ganhar a sua caixa de entrada e fazer um cafuné na sua mente.
Boas leituras.
Trilha Sonora
Para ser lido ao som de Angela Ro Ro.
Nome Próprio não faz cafuné
O que define o exato momento em que você passa a chamar o seu companheiro, a sua companheira, de Amor? Tempo de relação? Química? Dividir a conta do supermercado? O conforto de calças de moletom surradas em dias de frio?
Como chegar ao nível de chamar a pessoa em público, alto, bem alto mesmo, vocês estão longe um do outro, e a primeira palavra que vier à sua boca é Amor?
Como o Amor acaba, Paulo Mendes Campos já nos ensinou, mas tenho a impressão de que alguns casais nunca se chamaram Amor entre si.
Tantos outros perderam o hábito por questão de força. Amor passou a se chamar Mãe. Às vezes, vira Pai. É mais raro, mas acontece.
Talvez, por um tempo, eles ainda se chamem assim, quando sozinhos do mundo, em sigilo.
Meus vizinhos vivem juntos e se tratam pelo Nome Próprio, com todas as letras, sem diminutivo. Os filhos já estão crescidos, cada um no seu canto. E o casal ainda se trata pelo nome que está na certidão de nascimento.
Se alguém me conhece e me chama de Guilherme, a coisa não tá boa. Se for a pessoa que caminha junto e divide os bons e os maus momentos, é melhor eu pensar o que eu posso ter feito de errado. Agora, se tornar o cotidiano, Guilherme isso, Guilherme aquilo? Não. Banalizou. Nome Próprio não faz cafuné.
Um término pode significar a retirada do crachá de Amor espetado no peito. Alguns arrancam num gesto só, seco, como quem rasga a camiseta no meio da briga. Outros tiram aos poucos, uma letra por uma vez: primeiro o “r”, depois o “o”. Até que um dia você percebe que já não responde mais quando chamam. Ou, pior, ainda responde, com má vontade.
Tem também quem guarde o crachá numa gaveta. Junto com bilhetes de cinema, passagens aéreas, uma carta que nunca foi enviada. Dizem que ajuda a esquecer.
Mas o mais triste talvez nem seja isso.
É quando ele ainda está ali, pendurado, meio torto, gasto nas bordas, e ninguém mais repara.
Segue no peito, mas virou hábito. Como quem entra com os pés sujos na casa da gente e esquece de pedir licença. Como quem ouve “Amor” e responde “o que foi?”, sem nem levantar os olhos.
E aí um dia você está na fila do pão e ouve alguém chamar bem alto, do outro lado da padaria:
— Amor! Compra o integral!
E você vira.
Vira mesmo.
E por um segundo, quase acredita que ainda é com você.
Caso não conheça a crônica “O amor acaba”, de Paulo Mendes Campos, fica a recomendação de leitura.
Vale a pena ler de novo
Essa semana descobri o livro Como se fosse a casa (uma correspondência), publicado pela editora Relicário.
Uma troca de correspondência entre Ana Martins Marques e Eduardo Jorge. A princípio, inquilina e locador de um imóvel em Belo Horizonte, projetado por Oscar Niemeyer. Mas para sempre poetas em (im)permanência.
Na contracapa, esta lindeza:
Quando alugamos um apartamento alugamos uma paisagem alugamos vizinhos com os quais cruzamos no elevador a temperatura das manhãs determinados barulhos certas incidências do sol poeira alugamos as palavras que nos diregem os porteiros as distâncias relativas dos lugares que frequentamos alugamos os lugares que passamos a frequentar o cheiro de tinta o toque dos tacos alugamos o direito de dizer que aí moramos o salvo-conduto para entrar e sair e mesmo a permissão para morrer aí alugamos a memória futura de um apartamento e o direito de metê-lo num poema
Por hoje é isso.
Agradeço quem dedicou seu tempo e chegou até aqui.
Fiquem bem e até a próxima.
Um homem chamava a esposa de Amor, Querida, Benhêê, Benzinho... Até que um amigo pergunta o porquê e ele responde: é que eu já esqueci o nome da criatura... Meio-amargo, como um chocolate. Depois de 30 anos casado, eu e minha ex-esposa andávamos sempre de mão dadas, quando perguntaram o porquê, eu disse: Se eu soltar ela vai pro Shopping. era uma piada. Hoje não tem mais graça.
Amor...