Bom dia, boa tarde, boa noite, por enquanto.
O texto de hoje une futebol e política. De antemão, peço desculpas a quem abomina os dois — vocês é que estão com a verdade.
Depois não digam que não avisei.
Boas leituras.
Trilha Sonora
Para ser lido ao som de Novos Baianos.
Nós contra eles
O Palmeiras continua sem mundial. O Flamengo, coitado, nem cheirinho desta vez. O Botafogo fez estripulias pelos próximos trinta anos. O Fluminense convenhamos, foi mais longe do que o esperado, já que resultado, com raras exceções, provém de bolsos forrados, apostas abusivas, subornos, propinas, tramoias, trambiques, trapaças, enquanto a torcida se fode para pagar ingresso, transporte, cerveja quente, lanche duvidoso, você sabe quanto custa uma camisa oficial de time de futebol no Brasil?
No site do Corinthians ― que nem saiu de Itaquera durante o torneio ―, a nova linha, com 5% de desconto no pix (ó céus) custa a bagatela de seiscentos e sessenta e quatro reais com noventa e nove centavos. Mas é o modelo de jogador, alguém pode dizer. Poderia ser o modelo do Papa, do Pelé, do Popó, não me importa. O modelo de torcida ― leia-se qualidade inferior ― sai pela metade desse valor, mas me recuso a fazer as contas, não vale a pena, até porque não sou atingido.
O time que escolhi ou me escolheu ou foi veemente sugerido pelo meu pai, e acatado pelas primorosas campanhas do início dos anos 90, não figura mais nem na Série D, quem dirá no simulacro de elite do futebol nacional. Em 2025, o Paraná Clube foi rebaixado à segundona do paranaense, o purgatório dos clubes falidos, o limbo dos apaixonados. Meu clube hoje é saudade com escudo. É penúria com arquibancada. É saudades do que não vivemos ou pincelamos viver. Mas eu, que cheguei a assistir jogos por link pirata de qualidade duvidosa, em plena madrugada em Mumbai, com narrador local e microfone chiado, seguirei. Se o clube não fechar as portas ― há sempre a ameaça ―, é provável que eu esteja nas arquibancadas mal rebocadas no próximo ano, porque alguém precisa manter a esperança viva.
Dizem que o futebol une o povo. Mas só se o povo tiver crachá de patrocinador, ar-condicionado e vista panorâmica. Os outros — nós, os de fora, os do lado de cá da catraca — seguem torcendo por milagre ou por memória.
Porque no fundo é isso: o futebol virou um espelho do país. O pênalti não marcado, a câmera que não pega o lance, o juiz que apita sem provas, a propaganda do site de apostas por jogadores milionários, o erro do VAR, o VAR inexistente, o gol anulado no último minuto. A regra é clara: o dinheiro manda, e o resto corre atrás da bola que nunca chega.
Nós contra eles. E “eles” não são o outro time. São os donos da bola, da grama, da câmera lenta, do replay, da manchete e do algoritmo. Aquele ser laranjado que acredita que todo mundo lhe deve obediência. É o embuste do ex-mandatário. É o salário do promotor, do juiz, do senador, do dono do banco, do grande latifundiário.
A gente, no final das contas, só quer ver o jogo e, com muita sorte, soltar o grito de gol.
Vale a pena ler de novo
Se o texto de hoje foi uma tentativa de misturar futebol com algo mais, deixo aqui a recomendação de uma obra mais bem-sucedida.
O drible, de Sérgio Rodrigues, une a paixão futebolística de um pai e a distância para um filho. Lance após lance, o que não fica marcado na memória, pode mostrar o que uma relação esconde.
Por hoje é isso.
Agradeço quem dedicou seu tempo e chegou até aqui.
Fiquem bem, e até a próxima.
Graciliano Ramos (aquele) disse em um discurso que o futebol (ou football, ou soccer, sei lá) não representava o brasileiro, era apenas um modismo que logo passaria. Imagine só. Dizem que o esporte mais popular antes da chegada do futebol era a peteca. Garanto que as bets e os Vars não se criariam em grandes campeonatos de peteca. Não me julgue amargo, eu sou Paranista como você e pelas mesmas (mesmas!) razões. Assim como a justiça, que funcionaria muito melhor se fossem eliminados juízes e advogados, o futebol seria muito mais divertido se fossem eliminados dirigentes, CBF, bets, empresários, salários milionários... Mas sem esses elementos, quem teria interesse no esporte ? Talvez a torcida que ama o time (Meu Paraná...), os jogadores que jogam pela camisa, pés descalços em um campinho barrento... Acho que me empolguei.
VERDE E A COR DA INVEJA !!! visto que o agora sim a FIFA criou um Mundial e ninguém tem mais Mundial e não super mundial e equiparou todos os outros na mesma prateleira como campeão de confederações !!!